
Por Edinaldo Jr
Os cineclubes são associações sem fins lucrativos onde o público escolhe as obras para assistir e debater as temáticas. Muitos cinéfilos e diretores encontraram nesses clubes de cinema uma oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o processo cinematográfico.
Diretores da Nouvelle Vague, movimento artístico francês do século XX, aprofundaram as concepções estéticas nos cineclubes franceses. Cineastas como Jean Luc Godard, François Truffaut e Eric Rohmer usaram estes espaços durante os anos 60 para transgredir.
No Brasil, o movimento cineclubista ganhou força somente na década de 40. Eles foram responsáveis pela formação de importantes críticos brasileiros. O movimento cineclubista no Brasil viveu várias etapas. Na Bahia, o crítico de cinema Walter da Silveira deu a largada para o movimento cineclubista no Estado. Walter da Silveira foi um dos mais importantes críticos de cinema do Brasil. O baiano rompeu as estruturas do debate cinematográfico ainda na década de 40, ao trazer reflexões sobre o cinema brasileiro e o consumo de películas internacionais de qualidade.
A criação do Clube de Cinema da Bahia agitou a sala do Cine Guarany, onde hoje funciona o Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, no centro da cidade.”O clube de cinema tinha uma importância muito grande, mas a sua atividade era promover um bom cinema internacional, naquela época não era tão fácil o acesso a esses filmes. E, com o desenvolvimento das produções nacionais, o cineclube passou a promover também o bom cinema brasileiro”, relata o cineasta Guido Araújo.
Na década de 70, a Federação Baiana de Cineclubes passou a se associar aos movimentos sociais e a atividade cineclubista ganhou a força política do acesso aos bens culturais produzidos pelo próprio país. As projeções em diversos lugares da capital baiana, incluindo regiões periféricas, aumentaram consideravelmente o número de clubes de cinema baianos. Numa época em que os equipamentos de projeção e rolos de filmes custavam o árduo trabalho de montagem, o número de cineclubes chegou a faixa de 80.
A Jornada Internacional de Cinema da Bahia é um dos mais antigos festivais de cinema do Brasil. Com foco para o documentário e para o cinema social e político, o projeto surgiu em 1972, idealizado por Guido Araújo. Até o final da Ditadura Militar, a Jornada tornou-se um foco de resistência do cinema independente e da cultura brasileira contra o autoritarismo.

O acesso tornou-se a principal bandeira dos cineclubes. Em tempos em que as salas de cinema foram parar nos shoppings, os ativistas do movimento cineclubista lutam pela democratização do acesso.”Não adianta você ter uma grande produção de cinema se ninguém vê. Um país só tem soberania se ele vê a sua cultura, principalmente o cinema”, relata Gleciara Ramos, diretora da Federação Nacional de Cineclubes. “A gente passa, por exemplo, o filme de Orlando Senna, Diamante Bruto (1977), para o público de Abaíra, na Chapada Diamantina. Com ele a gente mostra a exploração do minério na própria região para o público que tem uma história, para que eles se reconheçam na tela do cinema”, conta.
Aqui na Bahia, o Cineclube Roberto Pires tem conseguido atingir o público das periferias com atividades constantes. O grupo leva o nome do cineasta que lançou o primeiro longa metragem baiano, Redenção. Organizados por um grupo de produtores culturais, o cineclube incluiu outras atividades educativa, junto à exibição de filmes, em reuniões nos bairros periféricos.
Os cineclubes funcionam também como espaço para discutir e difundir ideias, como é o caso do Crisantempo. A temática é a socio ambiental, e as pessoas que frequentam o grupo trocam diversas experiências. O grupo já realizou feiras de troca de alimentos orgânicos, abordam o cuidado com os resíduos solídos, dentre outros temas que, debatidos junto com filmes temáticos, ajudam a melhorar alguns problemas da cidade. “É um projeto bem cidadão neste sentido, porque todos os filmes a cada semana tentam ter uma relação com o que tem acontecido nos aspectos ambientais de Salvador”, descreve o produtor do cineclube Flávio Bustani.